sexta-feira, 29 de março de 2013

UMA HOMENAGEM AO GRANDE CRISTIANO LOPES



 Do cerrado e dos bichos

 (Do livro Coisas do Mato) Enviado pelo Autor Cristiano Lopes Furtado



            Das exuberantes selvas do Norte sou aluno, da magnífica Mata Atlântica, aprendiz; da riquíssima planície alagada do Mato Grosso, um estudioso dedicado, e dos Pampas Gaúchos sei apenas o que li em livros. Mas do Cerrado central do Brasil, arrisco-me a professorar alguns segredos.

Como goiano que engrossou os braços subindo em espera de pequizeiro, mirindiba, caraíba e ipê-amarelo, digo-lhes que nos planos mais altos de Goiás é no inicio de maio que as chuvas vão raleando, as manhãs ainda são nubladas e quase sempre nos meios da tarde desce aquela garoinha rala, mas persistente. Na roça chamamos de chuvinha de molhar bobo. À tardinha ecoam trovões compridos e o sertanejo diz que é a chuva se despedindo... e à noite arriscam-se algumas estrelas nas frestas das nuvens.

É o tempo em que as perdizes estão largando aos cuidados do mundo as crias da última das suas três chocadas. Porque perdiz é assim, iniciam o namoro piado ali pelo início de agosto, acasalam-se no início de setembro e a fêmea fica junto com o macho só até prepararem o ninho. Depois, ela põe os ovos e, como uma mãe desnaturada, cai no mundo piando atrás de outro namorado. O árduo trabalho de chocar e cuidar dos meninos fica por conta do pai dedicado. Estratégia danada de inteligente essa, pois só assim ela consegue pôr no mundo três ninhadas de setembro até o início de abril. Como a mortalidade entre os pequenos é alta, sem isso a perdiz há muito já teria acabado pela boca do lobo, pela fome descomedida do lagarto teiú (que fora dos chapadões procura e encontra muito os seus ninhos) ou pela maldade indiscriminada do fogo, que consome as campinas do centro do Brasil nos meses mais secos.

            No início de abril o tempo está verde, os campos exuberantes e dentro do mato qualquer moitinha esconde fácil um bicho grande. A chuva já se despediu, a terra fica firme e os rios começam a limpar a água.

Nas rocinhas de milho das vazantes, o caçador experimentado pode ver fundos os carreiros das pacas nos barrancos dos rios. Nesse tempo elas estão loucas por milho, sendo as roças mais sujas de mato as primeiras a serem atacadas. Para quem tem experiência e sabe ler as marcas, fica fácil fazer uma espera no carreiro delas. O segredo maior é saber escolher o ponto: nunca no limpo, pois ficam inseguras. Procure um bom armador dentro de uma latada de cipó, antes ou depois da roça, e debulhe meia espiga de milho seco na beira do carreiro e em um ou dois pontos promissores das imediações. Não tem paca que passe por cima sem parar e comer ruidosamente. Para esse tipo de espera, a lua boa é a lua no quarto crescente, quando entra ali pelas nove da noite, pois muita paca mora longe da roça e, quando se espera nos primeiros dias de lua cheia (como se costuma fazer nas cevas artificiais), ela pode não ter tempo de chegar à roça antes de a lua sair e clarear tudo... caminhar com lua clara ela caminha, para isso usa as sombras do mato, mas comer em pontos fixos com lua clara é muito difícil. Só mesmo quando estão realmente desesperadas de fome. Por isso, as esperas com a lua entrando são bem mais promissoras do que aquelas em que a lua irá sair cedo da noite.

            No início de junho, as águas das veredas ficam friinhas e o mato da beira dos rios também esfria muito ao cair da tarde e nas horas mortas da madrugada. Nos grotões e vazantes de chão preto e mata alta, cai a fruta do buraim... pau linheiro que só engalha lá depois de dez metros de altura. A casca dele é fininha feito casca de jabuticaba, tem folha miúda e, para ver os frutinhos, só achando no chão. O fruto é uma goiabinha miúda e amarelada no formato do araçá maduro, dá espera de primeira para paca, veado-mateiro, mutum e jacu. Se achar um pé caindo em lugar de mata sossegada, pode cortar as varas, amarrar o mutá e amolar a faca.

Junto com o buraim, nas pedreiras de serras e bocainas íngremes, cai a flor rosa da barriguda. Espera de mateiro melhor não tem, pois cai em um tempo de pouca comida nas matarias de serra. Para o caçador de espera, que é apaixonado pelos sons do mato, não tem emoção maior do que ouvir no meio de uma noite escura um mateirão caminhando lentamente serra a baixo, rolando pequenas pedras e farejando o perfume doce da flor da barriguda. E como são pesados! Desconfio que o ambiente íngreme desenvolva de forma mais acentuada a musculatura dos mateiros que se adaptaram a viver nessas serras, pois sempre são eles mais corpulentos do que os seus irmãos que habitam as matarias de planície.

            Junho vai correndo, e ali pela metade do mês começam a cair no cerradão cru que fogo não queimou as flores brancas do canudeiro, também chamado de paineira. E para quem quiser furar costela de veado-catingueiro, basta sair de tarde nos grotões secos e armar a rede em um capão de canudeiros. Só fiquem atentos, pois o chão da mata ainda não tem muita folha seca e as flores são grandes. Eles as comem quase em silêncio total, uma ou duas, e seguem em frente cumprindo o seu sistemático itinerário de alimentação noturna.

No final de junho também é tempo das favas negras da faveira-do-cerrado. Veado-catingueiro é morto no rumo daquilo. Onde não há gado no campo, eles gostam de comer de dia, depois das nove da manhã, ou de tardinha, depois das quatro. O fruto maduro é preto, seco, fino e curto, que nem um canivete grande. Quebrando-o, sente-se cheiro de baunilha; já provando da polpa, encontra-se um gosto doce-amargo. Dizem que é abortivo para o gado e que também tem fins farmacêuticos. Em pé de faveira ninguém arma rede, é fino e frágil, de folhinha miúda e sombra mirrada. Armamos “particular” (em árvores paralelas), como gostam de dizer os sertanejos do árido Tocantins.

            Quase no final do ciclo produtivo da faveira começa a cair o frutinho do pau-d’óleo. Esses frutos normalmente são encontrados dentro do mato fresco, na beira dos grotões sombreados pela cambaúba (bambuzinho) e refrescados pela água cristalina que desce das serras à procura dos rios perenes. No norte o chamam de copaíba, mas aqui para o sertanejo goiano é pau-d’óleo. A frutinha é miúda e quase que só uma sementinha preta, dura e brilhosa, mas grudado nessa sementinha vem um “emborrachamento” miúdo e adocicado de cor laranja. A “borrachinha” laranja é a recompensa para quem se dispõe a esparramar os filhos da árvore. O bicho de boca maior come com tudo, a semente passa pelo trato digestivo, que, com sua acidez, quebra a dormência do embrião. Quando ela sai, já é depositada no solo adubada pelas fezes do animal e bem longe da planta mãe, o que é o mais importante. É a mãe natureza dando seu show. Também é assim com as sementes da esponja, mirindiba e tamburil: quem planta é o gado, a anta, os veados, jacus, mutuns, catetos, queixadas e macacos.

             No interior existe uma crença reforçada que bicho que está comendo a fruta do óleo não morre fácil, se o tiro não for de calibre adequado e a colocação não for mortal é bicho ferido em fuga. A carne da paca e do veado que come o óleo não é boa, fica cheirando forte e tem o seu sabor original alterado, isso é fato. Mas o que tem de ruim a carne desses bichos quando sustentados por fruta de pau-d’óleo tem de cheirosa e saborosa quando os mesmos bichos comem o coco-macaúba ou o fruto do jatobá. E a do porco-queixada comendo o milho verde, nossa!!! Carne melhor não existe.

            No início de julho, entramos oficialmente no inverno, de dias quentes e curtos, com noites secas, frias e longas. Pobre do vivente que subir em uma espera de pequizeiro ou pau-d’óleo na boca de um varjão de buriti. O vento gelado do chapadão vem por baixo da rede, assoviando e trazendo o frio que entreva o caçador. Aí o sujeito tem duas escolhas: ou forra a rede com um colchotene fino, que vai servir como isolante térmico, ou o jeito é pular no chão, juntar um montão de folha e tocar fogo pra não endurecer os ossos do espinhaço.

Em julho também cai o jatobá maduro. Em Goiás temos dois tipos, o jatobá-da-mata e o jatobazinho-do-cerrado, este de tamanho menor, gosto mais doce e casca mais fina. Espera boa demais! Anta, veado-mateiro, cateto, queixada, paca, cutia, tudo come. A paca, ao quebrar a casca dura do jatobá com o dente, produz um estalo alto que vai longe dentro da mata silenciosa. Quem não conhece acha até que é tiro de .22. E para o caçador é uma emoção bem parecida com a que se sente quando se escuta o mastigar ruidoso dela no caroço da mirindiba, ou o roer acelerado que ela faz quando tem na boca a semente dura do coco-macaúba. Escutar uma paca estourando um jatobá numa noite de lua escura num mato sossegado da beira de um riachinho de água limpa enche de satisfação o coração da gente e só isso já paga a noitada do caçador que é apaixonado por caçada de espera.

            Julho vai correndo, e quando chega ali pelo final do mês, começa a cair a rainha das fruteiras de espera. No sul do estado chamam-na de piúna, mais para cima chamam de mirindiba... já no Mato Grosso chamam de tarumã ou boca-boa. Mas independente de que nome o sertanejo dê a ela, essa é sem dúvida nenhuma a rainha das esperas no Brasil central. Tudo no mato come mirindiba: o rato, a paca, a cotia, a cigana, as três raças de jacu (tinga, verdadeiro e o pemba), os mutuns pinima e cavalo, do catingueiro-xuré ao veado-mateiro, do cateto ao queixada, do boi bravo à anta, TUDO. Elas frutificam demais em um ano e no outro não dão carga alguma. O sertanejo fala que Deus fez assim pra não matar o gado de desinteria.

Como são árvores grandes, suas cargas são duradouras. Conheço pés centenários que, quando carregam, vão desenvolvendo e amadurecendo os frutos gradativamente, de modo que começam a cair no início de julho e vão até fim de novembro jogando as últimas frutas, com os ventos que trazem as chuvas do fim do ano. Embaixo não fica folha inteira, é carreiro de paca, pé de anta e casco de veado moendo o chão. Mas quem quiser saber notícias da noite, tem que chegar ao clarear do dia debaixo da mirindiba, pois é só o sol subir dois palmos e começar a secar o orvalho da capoeira que o gado vem babando para debaixo das fruteiras. Pisam e defecam debaixo até depois do meio dia, limpam todas as frutas no chão. Daí, achar o rastro fino de um catingueiro por cima do massador do gado é tarefa para poucos.

O sol esquenta e o dia passa quieto. Às cinco da tarde vêm os quatis, de longe a gente só vê o rabo bandeirando no ar, uma fila enorme. Sobem em segundos... depois, a cada fruta que comem, jogam duas outras frutas no chão. De longe a cotia escuta o “poft” delas caindo nas folhas secas. Aí entram à surdina, caminhadinho engraçado, catam uma fruta com a mão esquerda, sentam graciosamente sobre seus calcanhares lisos e:

– Crup, crup, crup!!

            Comidinho ligeiro, bem diferente do da paca. Os quatis descem e chegam os jacus. Bandos de oito a dez escandalosos, não apreciam a fruta verde (pois aperta a língua deles), aí vão só às amarelas das pontas dos galhos. Cada pouso de um pesado jacu-verdadeiro derruba no chão outra porção de frutas. Engolem inteiras até as maiores... ô bicho da moela grande.

            De julho em diante o mato é seco, e quanto mais chegamos perto de setembro, mais o clima esquenta e as noitadas ficam confortáveis.

Agosto é o mês de fartura no cerrado, cai a flor do pequizeiro, a mirindiba, o restinho derradeiro dos jatobás e os primeiros tamburis derrubados ainda verdes pelas maritacas. O pequizeiro por si só merecia um livro, sua flor tem hora certa para cair. As flores caem logo pela manhã, depois que os passarinhos bebem o resto do néctar que sobrou da farra dos morcegos durante a noite toda. O vento do romper do dia no cerrado vem na posição e na medida certa para derrubar as flores que já cumpriram o seu papel de polinização. Descem rodando feito hélice de helicóptero e batem nas folhas secas com um som gostoso e abafado. O vento vai embora, o sol esquenta e as abelhas chegam. Aí pode ficar atento e prevenir a .22, pois o veado-do-campo  está chegando. Reparem nas gralhas-de-topete que gritam longe, ou no gavião-pinhé, que ao ver o movimento do veado-campeiro dobrando o espigão denuncia-o para o ouvido afiado de quem entende a dinâmica das campinas abertas do cerradão de chapada.

            Entrando setembro, o cardápio ganha mais uma página. Além das esperas anteriormente citadas iniciam-se o ipê-amarelo, o ipê-roxo, a caraíba e o tamburil de dentro das matas altas. Nas capoeiras secas, cai também a fruta da espinhosa esponja, espera boa de catingueiro, veado-mateiro e pacas, caso a encontrem caindo em distância segura da beira d’água. Junto com a esponja vem a mutamba, e junto com a mutamba, seca e cheirosa, a farra dos jacus, veados e principalmente dos catetos e queixadas. A mutamba é árvore de madeira dura e forte, de altura considerável e que tem galhas de arquitetura boa para se armar rede. O defeito é que no ano que dá é geral, e a escolha da espera tem que ser feita observando o mato, pois o bicho tem o lugar certo, predileto e mais seguro para se alimentar.

            Em certos sertões secos e durante o mês de setembro, as poucas barragens que resistiram à sede do sol e os olhos d’água sombreados pela mata são ótimas esperas. Olhando-se atentamente, notam-se as mensagens que a lama que vai secando deixa impressa para o caçador experiente. Conta do veado, que pisa fazendo furo; do jacu, que passa arrastando a ponta do rabo; do macaco, que tem mão de menino; do tatu, que revira lama atrás de minhoca, e do lagarto, que passa arrastando o rabo que nem rastro de bicicleta. Subir em espera de bebedouro é presenciar um dia inteiro de procissões de milhares de abelhas mansas e bravas, moscas, besouros, passarinhos de tudo que é cor, lagartos, raposas, pombas-juritis, pequenas e engraçadas filas de jaós. Sem falar nos bichos maiores, como os bandos pequenos e desconfiados de catetos, que chegam ao finzinho do dia para beber e se enlamear, e dos predadores oportunistas, como a onça-suçuarana e o gato-maracajá, que espreitam nas árvores ou selados no capim, com os olhos vidrados nos passarinhos. O que é bonito de ver é a graciosidade dos bandos de centenas de borboletas, colorindo a beira lamacenta do bebedouro e sugando os sais na superfície do barro úmido.

            Setembro corre e entra outubro quente; as fruteiras estão no auge, algumas terminando o ciclo, outras no início. É tempo da flor vermelha do mulungu e da frutinha verde do casco-d’anta, única fruta do cerrado que dá espera de tatu-galinha. É tempo de gameleira ou figueira, das pacas e do veado-mateiro.

Ali pelo meio de outubro as cigarras destampam a cantar na mata, adivinhando chuva. Iniciam-se longos trovões pelas madrugadas frescas e, assim que caem as primeiras chuvas, o tamburil que caiu no chão absorve água amarga e só serve para a boca desaprumada da anta. Só elas continuam comendo os frutos amargos de olhos fechados, enquanto o caldo escuro escorre em seus pescoços. Com a chuva, crescem as favas do doce ingá-de-cordão, comida que macaco-guariba derruba para veado-catingueiro e paca. Amadurece o saputá-da-mata e o saputá-do-cerrado, também conhecido como grão-de-galo. No cerradão da chapada alta cai a fruta da cagaita para dar de comer ao veado-do-campo, que precisa do açúcar dela para digerir melhor os brotos curtos que surgem nas cinzas das campinas depois das primeiras queimadas.

Amadurece a espinhenta lobeira (do lobo-guará) e a mangaba-leitosa (dos catingueiros). Nos matos baixos da beira do rio cai o jenipapo, que aguardou o longo período seco totalmente formado. Espera boa para veado, anta e paca; cateto gosta, mas é falhador... como vive em uma infinita caminhada itinerante, não se deve confiar na rotina dele.

Entra novembro e a chuva firma, o arroz está sendo colhido nas grandes lavouras alagadas que tiveram os drenos fechados para permitir a entrada das colhedoras calçadas de esteiras. Milhares de marrecos, patos e bandos intermináveis de pombas asa-branca chegam de vários lugares para o banquete. É hora de guardar a .22, respeitar a reprodução dos bichos de pêlo e praticar o tiro ao voo. O cerrado muda, encorpa, o bicho consegue se esconder com muita facilidade, o capim cresce, as veredas são alagadas, as rãs e sapos iniciam suas festas de cantoria, os bichos que acumularam energia e gordura ao longo da farta estação seca, ou estão de namoro, ou de filhote a caminho. O macho do veado-campeiro está agitado, cheira forte; seu chifre está formado, forte e sem couro. Ele está pronto para a disputa das fêmeas, afinal, é a época do cio.

            Os rios enchem, as pacas fogem subindo as grotas que alimentam os rios e fazem suas moradas nos barrancos altos e secos ou nas raizadas das grandes árvores... ou ainda nas pedreiras da serra, longe da água barrenta e agitada do rio principal. Cai a pitomba, as mangas e o ingá, cai o coco-macaúba e o abundante cajazinho-amarelo.

Entra dezembro e a enxurrada lava os barreiros de pés de serra, expondo o salitre mineral apreciadíssimo por quase todas as nações de bicho. No barreiro entra cateto, queixada, anta e os veados mateiro, campeiro e catingueiro. Esses saleiros ou barreiros, quando ocorrem em barrancos abertos, são muito frequentados por araras e papagaios, que consomem o mineral para ajudar na digestão dos leitosos e tóxicos frutos que ingerem no alto das copas das matas mais altas.

            Entra janeiro e cai o tucum bem ao norte, cai o jerivá nos grotões do cerrado, cai o coco-cabeçudo e o coco-buriti nas matas de vereda. As cotias engordam e ficam com o queixo laranja de tanto comer buriti.

Entra fevereiro, o auge das mangas para as pacas e dos pastos altos para os veados, capivaras e porcos. O mato está molhado, as lagoas cheias de água e de peixes maiores que entraram para tentar caçar os menores. As lavouras de soja, feijão e milho estão verdes e encorpadas, os veados pastam a noite toda e sua dieta fica quase que 90% dependente de pastagens verdes. Com os porcos não é diferente, os queixadas pastam o verde, comem a planta pequena do milho e o barro salgado nos saleiros, os catetos fuçam as veredas amolecidas à procura de minhocas, raízes e pequenos insetos enquanto esperam ansiosos o granar das roças de milho nas lavouras de beira de mato.

             Entra março e a bicharada está nas roças, comendo milho. Na mata perdura o ingá-amarelo, o coco-macaúba, o saputá... no cerrado, a mama-cadela e o araçá. 

Entra abril e cai a fruta do “sabonete”. Paca não gosta, mas na escassez do resto, come. Não são esperas boas devido à quantidade, são árvores comuns e que derrubam frutos para todo lado, de jeito que o bicho não firma rotina. Abril, que é um mês de pouca comida natural e quando a chuva já recuou, é bom demais para fazer ceva de milho seco e caroço de manga. Aí os dias correm, a chuva vai espaçando, chega maio e fecha-se o ciclo, começando tudo de novo.

            Como o cerrado é um bioma que engloba nove estados do centro do Brasil, estados esses espalhados por vários paralelos, as datas, épocas e tempo de ocorrência de algumas das flores e frutos que mencionei variam bastante de uma região para a outra. Grosso modo, o principal mecanismo que desencadeia toda a química botânica da natureza está diretamente ligado ao fotoperíodo, que é a quantidade de luminosidade disponível durante o dia, ou a diferença (ou relação) entre o tamanho do dia e o tamanho da noite.

Fiz um resumo baseado em anos de observações e muita prática, não é um trabalho científico, mas é muito parecido com o real funcionamento das engrenagens de clima, tempo, água e comida dos animais ao longo do ano nesse incrível bioma que é o Cerrado Brasileiro.

4 comentários:

  1. eu gostaria muito de comprar os livros do tino,mais cade num encontro , vc sabe onde encontrar?

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    1. Os livros do tino meu amigo saa feitos por encomenda tipo assim ele publica 300 ai vc vai e reserva o seu!!

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  2. Tem previsão de alguma nova edição do livro coisas do mato?

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  3. Alguém tem que fazer uma nova edição dos dois volumes!

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